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Para chegar a conhecer a própria realidade interna, é preciso que o homem aprenda a estar consigo mesmo e que encontre a essência da solidão. Um indivíduo está pronto para viver equilibradamente quando é capaz de permanecer em harmonia com seu próprio ser, quando o estar só não o assustar. A solidão autêntica é um estado de desligamento dos vínculos que tolhem a ascensão da consciência, sem o que a liberdade não é alcançada. A descoberta da solidão é fundamental para que o ser consiga penetrar a essência da vida divina.
A mente humana chegou a um estágio tal que uma das provas pelas quais o peregrino tem de passar é a de manter-se calado, mesmo quando percebe que a verdade estaria mais claramente manifestada se outras fossem as opções dessa humanidade. A implantação da vida divina não se realiza enquanto o ser não adquire determinado domínio do uso da palavra. A transmutação e a elevação das energias estão diretamente ligadas ao uso da palavra. Ao nos referirmos à palavra, estamos abrangendo também as que não são verbalizadas.
O parâmetro que indica o amadurecimento do ser é sua conduta na vida diária. Seu campo de aprendizado e serviço é a lida rotineira, o trabalho e o contato com o que o circunda. Os momentos de silêncio, de recolhimento, de mergulho no próprio ser interno agem imperceptivelmente, possibilitando que sua vida eleve em vibração.
Muitos já passaram pela experiência de chegar a lugares em que a natureza exprime grande harmonia e perceberem-se convidados ao silêncio. A natureza é espontaneamente silenciosa. E mesmo quando os seres e os elementos da natureza emitem sons, conseguem fazê-lo sem romper essa condição.
Nos momentos de reencontro com o silêncio temos lampejos da nossa integração na totalidade. São momentos valiosos, mesmo quando logo depois os condicionamentos e hábitos afirmam o contrário.
A estrutura da civilização moderna afastou-nos do silêncio e, assim, continuamente perdemos a oportunidade de penetrar a via de união com o que há de mais verdadeiro em nosso interior. A agitação e o bulício cotidiano das aglomerações nas cidades enfatizam os aspectos superficiais da existência, postergam o mergulho nas profundezas de uma vida mais ampla. Somos com insistência chamados a colocar a atenção em superficialidades, a valorizar em excesso as aparências; desse modo, pouco a pouco nos deixamos envolver por elas e nos distanciamos de uma percepção mais profunda da vida.
O silêncio é básico para o equilíbrio integral do ser e para sua evolução. Num sentido bem amplo, seu cultivo não implica necessariamente privação do uso da palavra, embora essa prática possa estar incluída de forma moderada. A esse propósito, um filósofo disse que a abstenção de palavras é como a casca de um fruto; a casca não é o fruto, mas o protege enquanto ele cresce. Assim, para chegarmos ao silêncio são requeridas ocasiões de recolhimento, de aquietamento dos sentidos, de ausência de envolvimentos externos - ocasiões de união com o mundo interior, com a essência de tudo e de todos.
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